The Artist: Uma homenagem ao Cantando na Chuva



Muitos acharão exagero classificar de “brilhante” o filme “The Artist”. E mais ainda de não o classificá-lo como homenagem ao cinema mudo. Apesar de mudo e ambientar-se nos moldes desta fase cinematográfica, trata-se de um declarada homenagem a tudo aquilo que remete ao visual, às idéias simples, ao poder da música, de suas estrelas e a magia do cinema. Não consigo imaginar nenhum outro filme com as mesmas qualidades que “Cantando na Chuva” de 1952. Assistir ao filme de Stanley Doney e Gene Kelly, seguido pelo magistral trabalho de Michel Hazanavicius é constatar tudo aquilo que torna o cinema ainda hoje, a sétima arte.

Acredito que o passado, quando resgatado, toma o presente de imediato. O saudosismo é instantaneamente agradável e aceitável (sem questionamentos) a quem o contempla. Foi assim com “Cantando na Chuva” é assim com “The Artist”. Ambos falam de uma mesma época, porém a públicos diferentes. Iguais em suas idéias, mas completamente diferente ao seu público. O filme de 52 homenageava o cinema, em sua era muda e usava uma nova tendência (os musicais) para se comunicar com um novo espectador: aquele que já se acostumava com a novidade do som e que via na música e em seus números um delírio visual na sala de cinema.

The Artist usa o mesmo tema, mas se propõe a uma nova aproximação: em meio à mega produções, imagens em 3D e filmes de apelo extremamente comercial, Nada melhor que uma simples idéia, um bom roteiro, bons e desconhecidos atores para se mostrar aos novos espectadores que o verdadeiro cinema se comunica na simplicidade de imagens. Assistir “The Artist” é lembrar-se de tudo aquilo que o cinema chegou a representar em nossa ingênua infância e ficou perdida entre os nossos blockbusters de cada dia.



Se “Cantando na Chuva” tinha Gene Kelly e Debbie Reynolds, “The Artist” nos apresenta Jean Dujardin e Bérénice Bejo. Dujrarin é um retrato fiel de Kelly e o que ele representa no filme da MGM. Bejo cativa no primeiro momento em que aciona a sua já famosa piscadela, enquanto Debbie nos envolve gradualmente a cada sorriso na tela. Em ambos os filmes, a chegada do som muda completamente o destino e a carreia de suas estrelas, mas suas transições são opostas: uma é pela comédia, a segunda pelo drama. Mesmo assim, o bom humor, na media exata, não deixa dúvida de se tratar de uma homenagem ao gênero.


Muito de “The Artist” remete a “Cantando na Chuva”. Das cenas iniciais, locações, sorrisos e expressões de seus personagens, montagem e figurinos. Se existe algo realmente original é sua trilha sonora. Diferente das músicas do filme de Kelly, (pertencentes a Metro e esquecidas até Kelly repaginá-las de forma única na película de 52), Hazanavicius encontrou em Ludovic Bource a essência dos filmes da década de 30 juntamente aos musicais da década seguinte. Pianos, trompetes, pratos e bumbos remetem de Chaplin às melodias de Bernstein, mas sem perder a sua originalidade.

Muitos torcerão o nariz ao final da sessão do Filme. Outros acharão exagero classificá-lo como o melhor filme do ano. E até neste ponto ambos os filmes (de 52 e 2011) terão o mesmo final: Apreciado sem muito alarde em seus primeiros anos, para em seguida serem classificados como obra de arte.





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