Que “Criolo” é esse?



Com uma frase “Não existe amor em SP” ouvi pela primeira vez a canção de mesmo nome em uma chamada na TV. Por mais que tivesse me interessado na melodia, não dei importância a musica que continuava a tocar. Semanas depois eu ouvi meu parente comentar sobre a crítica positiva que um cantor paulista, rapper, tinha recebido de uma revista cultural mensal. Fui procurar informações e fotos desse cantor. Não fui com a cara dele. De cara. E ai não dei mais importância para o nome: Criolo. E isso é nome de cantor? Pensava eu.

Não. É nome de artista. E mais uma vez acabo enganado pelo meu pré conceito. Criolo não só é um profissional inspirado como seu disco “Nó na orelha” é sensacional!  Desde que passei a conhecer o cantor e seu trabalho não me canso de descobrir novos sentidos e melodias sobrepostas às suas canções. Parece um trabalho artesanal de sons, onde casa instrumento (ou a ausência dele) serve para pontuar, ressaltar, assustar, resignar e pensar sobre detalhes da vida cotidiana, das relações sociais, dos comportamentos atuais e da condição humana. Parece exagero falar assim de um cd, não é. Pois então de permita ouvi-lo.

Meu amigo Wiki, http://pt.wikipedia.org/wiki/Criolo_(cantor), me informou que seu nome era Kleber Cavalcante Gomes, tem a minha idade (nasceu em 1975) e era anteriormente chamado de Criolo Doido.  Atuando na música desde 1989, ele ficou mais conhecido por ser o criador da Rinha dos MC's, um local que existe até hoje e reconhecido como centro dos rappers de São Paulo. Ontem, dia 20, Criolo ganhou três dos cinco prêmios de disputou no VMB, da MTV. Injusto. Deveria ganhar os cinco.


Costumei a associar o Criolo ao Marcelo D2 pelo impacto que causou em mim. Tanto como ouvinte como pessoalmente. Marcelo era mais conhecido como o “cara” do Planet Hemp e sua simbologia nos anos 90. Não gostava dele, mesmo fazendo uma música interessante. Passei a odiá-lo quando se lançou na carreira solo. Preconceito. Até que “A Procura da Batida Perfeita” foi lançado. Até hoje considero um dos melhores discos que já ouvi. Por diferentes motivos, e o principal dele foi ouvir pela primeira vez uma mistura de rap com samba de forma tão única, uma identidade brasileira, por mais que soe comercial. Ouvir o cd inteiro me dá até hoje a sensação de acompanhar com D2 sua busca, em cada faixa, em cada sonoridade dessa obra, pela batida perfeita.


Seu disco seguinte não foi a mesma coisa pra mim. O impacto já tinha sido causado. E o trabalho posterior soou repetitivo. Mesmo assim mudei minha opinião sobre o artista. Marcelo é um cantor de qualidade, e ponto. Vejo no Criolo o mesmo. Pelo que percebo também seus fãs mais radicais certamente o taxaram de “comercial” neste atual trabalho (seu segundo). Mas foi a forma encontrada de causar impacto, de se revelar e mostrar ao país a qualidade de suas musicas.  E quem o assistiu na rinha, ou ouviu o seu disco anterior sabe que toda a raiz do rapper paulista ainda está lá. E desta vez encravada ou disfarçadas de musicas suaves, sonoridades melancólicas e frases desconcertantes. Ouça “Subirusdoistiuzin” e vai entender do que estou falando.


O que me perturba em todas estas constatações é a imagem equivocada da qualidade musical que me foi imposta social e culturalmente, que me faz achar que só os cantores do chamado “MPs” são caracterizados como música de qualidade. A música popular brasileira é muito mais que isso. Exemplos como Criolo e D2 são apenas alguns para demonstrar o quanto estamos ainda limitados em nossas descobertas musicais, nos privando de conhecer novos talentos e nos tomarmos mais sociais, críticos e cidadãos. Sim, por que a música é uma arte e como tal ela faz pensar, criticar e acima de tudo, transformar.


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