Madame Satã foi um personagem emblemático do
Rio de Janeiro na metade do século XX. Ficou conhecido por revidar agressões e
ofensas por ser negro, gay, transformista e mendigo. A “Madame” dificilmente perdia uma briga. Há duas
semanas, no município de Rio das Ostras, dois jovens macaenses ao saírem de uma
parada GLBT foram agredidos pelo que tem se chamado de Pitt boys, aqueles cães
raivosos, com instintos agressivos, Os agressores preferiram não dar queixa,
uma vez que o medo, já comum nesses casos, foi maior. Fui informado desse
episódio por e-mail e solicitado a divulgar procedimentos seguros para evitar
situações como estas. Respondi com a seguinte pergunta: Até quando os
homossexuais se vitimizarão às agressões?
O tema é polêmico. E constantemente mal
interpretado, criticado, podendo parecer tendencioso e apológico. Não é esta a
intenção. Questiono o limite em não compactuar com essas atitudes passivas e a
necessidade de realmente se mobilizar, organizar e enfrentar ações homofóbicas.
Os homossexuais se mobilizam positivamente nas paradas para buscarem a
liberdade de se expressarem, mas não fazem o mesmo para protestar contra a
violência. Não de forma atuante.
A questão atingiu seu limite. Para ambos os
lados. Todas as iniciativas e movimentos a favor dos homossexuais estão causando
tantas discussões e debates e imposições legais que a necessidade de se
estabelecer um equilíbrio moral e social já não pode ser feito a base de atos e
ações espelhados em líderes que pregaram passividade. Héteros se sentem
prejudicados, a igreja a espreita de uma mobilização. Quando vejo um jovem
usando uma frase pacificadora ao ser agredido, me incomodo. Gandhi foi o
idealizador do princípio da não-agressão, no qual a vítima, ao ser agredido,
acaba inibindo seu agressor ao não reagir da mesma forma.
É preciso reagir. De alguma forma. Direitos
foram conquistados, espaços na sociedade e algum respeito também. Possuo
críticas a respeito das Paradas Gays, sobre a união civil, algumas
manifestações homossexuais. São as minhas opiniões. Mas não são justificativas
que me levem a uma rua deserta, ficar a espreita de um homossexual e agredi-lo.
Mas para muitos jovens agredidos, que além de terem sidos expostos a esses
atos, ainda terão que conviver com a exposição. Ver no rosto as
marcas de socos e pontapés o faz se sentir ainda mais humilhado por aqueles que
desconheciam sua sexualidade.
E o que aconteceria se esses agredidos se
unissem e passassem a buscar seus agressores, um a um? E mais. Se tornassem tão
violentos quanto eles? De qual lado, nós da sociedade ficaríamos? Recriminaríamos?
Apoiaríamos? E se esta for a constatação, por que então não ficamos do lado de
quem foi agredido desde o início? Ou Seríamos nós, secretamente e demagogicamente
preconceituosos enrustidos?
De alguma forma é preciso mudar. E rápido. O
medo, por maior que seja acaba gerando dor. E a dor tem o seu limite. Não
sabemos a conseqüência e a reação desse limite. Foi assim com diversas
manifestações pela história. Dos movimentos sindicais, aos feministas e até os
gays, como Stonewall. Infelizmente eles vieram por meio das reações agressivas
e não da compreensão e respeito. Será que teremos que passar mais uma vez, após
décadas de conquistas, a esta atitude do século passado de se buscar respeito?
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