Acabem de uma vez com o Palácio dos Urubus!




Isso mesmo! De uma vez por todas! Ano após ano, assistimos de forma assustadoramente passiva e mórbida o desmoronamento desse espaço que deveria se tornar patrimônio municipal, referência na história do município. Mas não. Pelo contrário. A cada parede caída, uma nova cor de tapume passa a esconder a erosão e o descaso que este imóvel tem passado nas últimas décadas. Acredito que muitos macaenses não suportam mais vivenciar uma espécie de crônica de uma morte anunciada. Então, que acabem de uma vez com o Palácio dos Urubus!

Eis algumas considerações sobre essa edificação: “Construído por volta de 1870 em área de chácara, hoje inserido na malha urbana, destaca-se como importante monumento da cidade de Macaé. Arquitetura sóbria, senhorial, apegada à tradição luso-brasileira de construir e habitar. A edificação utiliza alguns elementos do vocabulário neoclássico sem, no entanto, alterar sua linguagem construtiva colonial. De aspecto compacto, fortalecido pelo volume prismático e a regularidade dos vãos, recebe um grande telheiro com as pontas em rabo-deandorinha e terminando em beirais sobre a cornija”.

E mais: “Um mirante rompe a cobertura e destaca-se no volume da edificação. Há muitos anos abandonado, o Palácio dos Urubus vem sofrendo um processo de arruinamento progressivo, apesar de diversas iniciativas do poder público”. Essas informações constam no site do INEPAC, o Instituto Estadual de Patrimônio Cultural no Rio de Janeiro. Inclusive a frase relacionada ao seu abandono. Lá, não constam fotos e informações sobre o legado cultural da construção. Sua história se perde a cada dia.

Apesar de não ser macaense passei a infância e adolescência no município. Acompanhei a degradação do Palácio durante os últimos anos. É sabido das inúmeras complicações processuais que envolveram sua história junto aos proprietários, o interesse do município em obtê-lo e por fim, sua transferência ao Instituto. Não são justificativas aceitáveis quando se trata de transferir à cidade esse importante monumento. E o fato de não termos nos mobilizado de forma significativa, desde o início, por sua preservação, acaba por aumentar nossa frustração ao olhar, diariamente para o ela que transformou (ou deixou de se transformar).



Até a década de 50, o Palácio dos Urubus era conhecido pelo nome de Palácio da Baronesa. Hospedou inúmeras personalidades e recebeu visitantes ilustres, Dom Pedro II, Conde D’Eau e Princesa Isabel. Mais tarde recebeu o nome de “Urubus” pelo fato do prédio ser o ponto mais alto das proximidades de um matadouro municipal. Urubus ocupavam diariamente a cúpula do Palácio, observando a degradação de seus alimentos para enfim, se satisfazerem.

Acho que é assim que muitos se sentem, inclusive eu. Um urubu. Ficamos por anos a fio observando a queda, a degradação de um grande alimento histórico e cultural, na inocente esperança de podermos desfrutá-lo, sem ao menos perceber que mal estávamos fazendo a este patrimônio. E o que restou de alimento foram apenas às histórias, suas influências no teatro e literatura. Mas nunca a sua estrutura.  Por isso mesmo, necessitamos de um tiro de misericórdia: Acabem de uma vez com o Palácio dos Urubus!

Comentários