A violência imobiliária de Macaé


Nunca na história desse município se vendeu e alugou tantos imóveis. Nem mesmo no Boom dos anos 80, quando a cidade definitivamente começou a se crescer (e não se desenvolver) rapidamente. Morar em Macaé é muitas vezes uma tarefa desgastante, injusta e acima de tudo frustrante, uma vez que a especulação imobiliária tem feito os cidadãos reféns de um cenário que não condiz sobre o que é realmente válido ao se pagar por um imóvel nesta cidade.

Nada contra o setor mobiliário. A questão aqui é como esse crescimento promoveu na cidade um desvio de avaliação, de parâmetros que levem a um espaço a ser alugado ou comprado, um justo valor de mercado. Hoje é possível encontrar nas áreas nobres, aluguéis a 9mil Reais. E o apartamento nem se encontra na orla dos Cavaleiros, no Pecado, de frente pro mar ou (utilizando dos jargões imobiliários) a 5 minutos da Praia. Esse valor se refere simplesmente por estar em áreas fora do Centro da cidade e de bairros de vulnerabilidade social.  E são esses lugares em que se manifestam a violência imobiliária de Macaé.

Se nas áreas nobres o preço dos imóveis é alto, nas áreas menos nobres e nas comunidades carentes os preços tentem a seguir essa linha, mas com outra característica: a qualidade desses espaços. Tudo em Macaé para a classe média ou baixa se resume em kitinete. Hoje qualquer quadrado com cozinha e banheiro é kitinete, mas com qualidades que beiram ao grotesco por um preço fora da realidade.

No Centro da cidade é possível encontrá-los com valores entre 500 a 900 Reais. Uma kitinete. Em Campos dos Goytacazes é possível alugar dois apartamentos por este último preço. Ficamos reféns deste mercado por não termos saída, e assim qualquer proprietário de imóvel acredita que pelos simples fato de um apartamento estar ao valor de 7mil na praia Campista, seu quarto e sala tenha que valer mil reais. Perdeu-se a noção de especulação.

E dessa forma, o cidadão que precisa e possui condições para alugar algo digno, dentro dos reais padrões de mercado, se vê obrigado a morar em locais cada vez mais distantes da cidade, em condições cada vez mais precárias, em detrimento dessa constante dicotomia de valores. O que se esconde por traz disso é ainda mais constrangedor. Ao inflamar os aluguéis, muitos proprietários têm construído ao bel prazer todo o tipo de cômodo para ser alugado. Produzindo assim, pequenos pombais, surgindo assim uma disfarçada favela aos nossos olhos.

Me recuso aqui a apontar o mais constante argumento para justificar os problemas do município. Mas reitero a necessidade de se rever certos paradigmas sociais e administrativos em prol de uma melhoria de vida para os cidadãos. Antes que seja viável aos macaenses morar em Campos e trabalhar em Macaé.    

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