A desvalorização da amizade

Na última quarta-feira, dia 20 de julho, se comemorou o Dia da Amizade. Nunca me lembrei de existir esta dada quando era criança ou mais jovem (hoje em dia ninguém fica mais velho!). Só fui me dar conta dessa data nos últimos anos. Mas acho que, se esta comemoração é recente, serve bem para ilustrar as relações pessoais nos dias de hoje.Diante das inúmeras possibilidades de relacionamentos e comunicação, esta palavra começa a passar por uma curiosa indagação. Será que vivemos um momento da desvalorização amizade?



Percebo que a cada dia as relações pessoais têm perdido suas definições e dando espaço a uma nova forma de se relacionamento. Hoje, se confunde amizade com coleguismo, que, em um sentido pejorativo é tudo aquilo que no meu tempo (desculpe, na minha adolescência) meus pais me faziam evitar. Escrevo isso, porque dificilmente os jovens de hoje aprofundam seus companheirismos de forma a criar vínculos fortes. Cria-se relações duradouras, mas com a profundidade de um pires. E insistem em dizer que determinada pessoa é a sua amiga,ou amigo.

Nasci na metade da década de 70 (não tem jeito, estou velho mesmo!) e as amizades eram estabelecidas por meio de dores, alegrias e tristezas. E brigas, muitas brigas. Mas que em poucos minutos eram desfeitas pelo simples fato de se constatar o ridículo da situação e a importância que aquele ser humano tinha em nossa vida. Esses amigos me acompanham até hoje. Muitos não são de Macaé, mas ao primeiro telefonema, nossa aproximação é imediata. É um amigo. A família que a vida nos deu o direito de escolher.

Hoje, percebo uma relação diferente das pessoas por meio do que julgam ser amizade. Não avaliando aqui nossos milhões de amigos seguidores, das mídias sociais e virtuais, mas sim a mesma relação física. O individualismo do mundo de hoje nos obrigou a sermos menos tolerantes, menos propícios a nos interessar pelo outro (caso não nos traga benefícios) e até mesmo pouco bondoso e verdadeiro com o próximo. O que vem se estabelecendo entre as pessoas é o conhecido “Não tenho saco”. Não se constroem amizades, se estabelece níveis e grupos de interesses, que ao primeiro indício de insatisfação é desfeito e criado um novo. E outro. E outro.

É claro que a amizade, em sua pura definição ainda existe, claro. Mas o tempo tem se encarregado de transformá-la muito mais tarde, quando a vida já nos deu todas as lições que não precisávamos receber, pois os nossos pais e familiares nos encarregavam disso.

Se ainda é difícil acreditar na desvalorização da amizade, comprovo aqui, relembrando uma das melhores traduções dessa palavra: “Amigo que me olhe nos olhos quando falo, que ouça as minhas tristezas e neuroses com paciência, e, ainda que não compreenda, respeite os meus sentimentos, alguém amigo o suficiente para dizer-me as verdades que não quero ouvir, mesmo sabendo que posso odiá-lo por isso, alguém que creia nessa coisa misteriosa, desacreditada, quase impossível”. De um adorável vagabundo. Charlie Chaplin.

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